Uma palavra com apenas três letras, com um significado
enorme, mas infelizmente, só para alguns. Para muitos pai significa, amor,
ternura, herói, futuro, partilha, felicidade, presença, para muitos pai é vida.
Para mim todos esses significados desvaneceram-se como o
nevoeiro da noite, que desvanece á medida que o dia aparece, desapareceu sem
deixar rasto, sem dizer adeus, sem aviso que um dia iria acabar e a cada dia
que passo pergunto-me a mim aos anjos o porque deste adeus nunca dito, o porque de tudo ter tido um fim e todos
esses significados tão fortes deixarem de ter o mesmo brilho.
Amor? Amor hoje só conheço de um ser, de uma mãe, mas o amor
de um pai de um papá onde está? Alguém o levou, prendeu-o numa masmorra até á
eternidade, não dando chance para puder voltar para puder reviver, o amor que
parecia sólido e inacabável teve um fim.
Ternura? Onde está ela? Aquele abraço que parecia forte que
parecia um ponto de refúgio, é agora um buraco negro que me apavora até á
espinha, não sei como sabe realmente esse abraço, pois perdi algures o gosto
por ter esse abraço de volta, perdi a esperança de um dia voltar a receber um
abraço com a mesma intenção de antes, com o mesmo conforto de antes.
Herói? Passas-te de um herói enorme para um vilão e como
todos os vilões levas-te tudo o que era valioso, levas-te parte da alma afogaste-a
num poço de amargura e raiva, estrangulas-te a felicidade e arrancas-te do
coração o prazer e brilho de ter um herói. Destruis-te tudo em redor sem pudor
sem pena, e sumiste tal como todos os vilões.
Futuro? Onde eu sonhava um dia poder agarrar non meu
certificado da faculdade e correr para os teus braços e mostrar-te o quanto mereço
o teu amor o quanto valeu a pena acreditar que era capaz de te surpreender,
hoje já não espero nada disso, porque mais tarde quando um dia receber o meu
diploma vou olhar em meu redor e a única pessoa que estará lá para me abraçar
será a única pessoa que nunca me abandonou nem me irá abandonar, a minha mãe,
mais uma vez ela , e tu ? Onde estarás nessa altura?
Partilha… a partilha de um sorriso de uma emoção, no bem e no
mal, viste me nascer, mas não me vês crescer, onde estives-te quando precisava
da tua mão forte para me levantar quando estive no fundo? Onde estives-te
quando fechei os olhos para escolher entre a vida e a morte? Onde estiveste
mais uma vez quando acordei, quando abri os olhos e percebi que ainda aqui
estou? Onde estiveste cada vez que o meu corpo não aguentava, e precisava de
apoio? Procuro respostas dentro de mim mas não encontro, porque até hoje
procuro-te nesses momentos. Porque que quando soubeste da minha doença não correste
para mim? Porque que não largas-te tudo para me socorrer? Era isso que um
verdadeiro pai faria, mas tu não fizeste. Não digas que tinhas que trabalhar,
isso é uma desculpa para mal que fazes, a minha mãe também trabalhava e largou
tudo pela minha vida, mas tu escolhes-te a tua vida à minha, essa foi uma
escolha errada.
Felicidade, era o que eu devia ter sempre que ouvisse o teu
nome, mas a uma coisa que me ocorre quando é dito o teu nome é traição,
abandono. Hoje a palavra pai não significa nada é uma palavra que foi apagada
do meu dicionário, é um vazio.
Depois disto tudo eu pergunto, onde está aquele pai para quem
eu corria para abraçar quando voltava de longe, que me fazia deitar lágrimas de
felicidade, que me curava as feridas quando eu caia, que me ralhava quando algo
estava errado, que me fazia companhia a ver televisão, que chegou até a
levar-me para sair, onde está ele?
Esse nunca mais voltará e a ultima visão ou lembrança tua que
tenho é de alguém que me abandonou quando eu mais precisei, que me virou as
costas, quando se foi quando eu pedi para voltar, que me prometeu o céu a terra
e o infinito e nunca deu nada, que me fez chorar dias, noites e meses. Mas com
tudo isto aprendi uma coisa, quanto mais tu prometes menos eu acredito em ti. Essa
será a realidade que conheço e vou conhecer para sempre.
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Folhas soltas